sábado, 21 de março de 2015

Grande Irmão - Lionel Shriver

"Mas algo tão insignificante quanto a gratidão pela competência do cérebro humano na realização de tarefas múltiplas, durante 99,9% do tempo, nunca seria o bastante para Edison, para quem a trama sempre tinha que vir em letras grandes.





Título: Grande Irmão

 Autor: Lionel Shriver 

Título Original: Big Brother 

Tradução: Vera Ribeiro

Editora: Intrínseca

2013




      Não é surpresa pra ninguém que Lionel Shriver é polêmica e surpreendente quando se trata de escrever livros. A autora consegue traçar uma linha realista em suas obras e sempre prefere os aspectos humanos (que nunca é abordado nos demais livros) às premissas perfeitas presentes na grande maioria.
      Em Grande Irmão, somos levados à Pandora Halfdanarson, que mesmo não sendo o foco da obra, é a protagonista. Pandora, empreendedora muito bem sucedida, leva uma vida comum com seu marido e enteados no Iowa. Logo no primeiro capítulo, Pandora recebe um telefonema de um dos amigos do irmão, Edison, que pede ajuda em relação ao irmão. Intrigada com aquilo, Pandora envia uma passagem para que Edison venha até o Iowa para passar um tempo com sua família. Com exceção, é claro, dos 100 kg a mais que o irmão adquirira, Pandora não vê nada a mais no pianista de jazz falido.
      O surpreendente é que em dado momento do livro, Pandora decide que irá ajudar o irmão a emagrecer e isso não muda mesmo quando o marido coloca o casamento em jogo. Determinada a ajudar o irmão e em adição a isso, perder alguns quilos que também tinha, a protagonista se muda de casa e passa a morar com Edison, seu irmão e parceiro de dieta.

“Enquanto nos afastávamos, pensei na disparidade: Edison estava apostando o orgulho, Fletcher estava apostando um bolo e eu estava apostando meu casamento.”

      Chega a ser cômico o modo como a autora relaciona tudo à comida e pode soar tosco dizer que tudo gira em torno dela, mas é verdade, e Shriver lhe provará isso.

“Meu paladar ficou mais amplo na idade adulta, mas não o meu caráter. Sou como o arroz branco. Sempre existi para dar destaque a pratos mais empolgantes. Fui um complemento quando menina. Sou um complemento agora.”

      O livro se divide em três partes 1- Mais: focado em como Edison está gordo. 2- Menos: focado na dieta dupla. 3- Fora: Bem...
      Devo confessar que a raiva tomou conta de mim nos penúltimos capítulos, mas quando finalmente fechei o livro, não consegui distinguir qual fora sentimento que o fim me causou. Só consegui concluir uma coisa: Shriver não cria personagens para serem adorados nem para gostarmos, ela simplesmente não cria personagens. Fora essa a impressão que tive, pois a autora consegue criar um enredo tão realista, que é inevitável identificar-se com algum personagem. O desfecho, por mais que bombástico, é humano. E creio que este seja o principal trunfo da autora.
      O primeiro livro que li desta autora foi Precisamos Falar Sobre o Kevin que, de longe, foi uma das melhores leituras da minha vida. No embalo, li Dupla Falta, que entrou para os piores. Como ultimato, li Grande Irmão, para decidir minha posição de vez e fico feliz em saber que Dupla Falta fora apenas um equívoco e que a habilidade de mestre da autora vista em Precisamos Falar Sobre o Kevin é visto novamente em Grande Irmão.


“Só em retrospectiva reconheço que essa questão de ‘fazer a sua parte’ é um erro letal de compreensão da natureza dos laços familiares.”

sexta-feira, 13 de março de 2015

Tag: Liebster Award Tag


Apesar do hiato que se seguiu no blog, a atividade continua. Recentemente o Joe do Leia-me Já! Respondeu à uma tag e indicou-me para fazer o mesmo. Trata-se da Liebster Award Tag, cujas regras são:

- Escrever onze fatos sobre você
- Responder as perguntas de quem te tagueou
- Indicar de onze a vinte blogs e criar onze perguntas para estes
- Inserir no post uma imagem do selo Liebster Award
- Linkar de volta quem te indicou

Como Joe deixou a tag livre para alterações, também pularei a parte dos fatos pessoais, deixando igualmente em aberto para quem for indicado.

P.s.: Você pode conferir o post do Leia-me Já! Aqui
Sem mais, vamos às perguntas:

1- Qual o livro que te fez se apaixonar pela literatura?
Bom, eu sempre gostei de ler, mas nunca considerei a leitura como algo necessário no cotidiano. Isso passou a mudar quando comecei a ler – mesmo a versão traduzida – de Harry Potter, mas foi apenas com A Torre Negra – O Pistoleiro de Stephen King que minha ideia limitada sobre livros mudou de vez. É claro que mais tarde vários autores me marcaram, como Martin e Shriver, mas foram as escritas de Rowling e de King que me mostraram um universo totalmente novo, cujo aderi a minha vida pessoal (e quem sabe profissional).

2- Descreva-se com o título de um livro
Que complicado! O Apanhador de Sonhos

3- Qual o seu personagem preferido? E o que você aprendeu com ele/ela?
É complicado escolher apenas um, aprendemos tantas coisas com tantos personagens. Com David Martín, aprendi a importância da arte da escrita. Com Dumbledore, que a força se curva à sabedoria. Com Willy Novinsky, que há sempre algo em jogo. Com Park So-Nyo, a importância de uma figura materna. E uma infinidade de outros...

4 – Qual o gênero literário mais subestimado? E o mais superestimado?
Quando se trata de gêneros literários, tento analisar tudo com um olhar imparcial, mas é fato que sempre há um ou outro que torcemos o nariz, e no meu caso é o chick-lit ou qualquer romance melosamente levado ao extremo. Por outro lado, qualquer ficção fantástica terá vez nas minhas leituras.

5- Complete a frase “Através do meu blog eu espero...”
... a princípio refletir e compartilhar sobre minhas leituras e experiências literárias, mas também compartilhar curiosidades sobre livros e o universo literário em si.

6- Qual crossover literário você gostaria que acontecesse?
Tomei a liberdade de modificar esta pergunta. Crossover seria a mistura de livros e/ou personagens distintos numa mesma história. Realmente não consegui imaginar nenhum crossover que soasse interessante e não estranho, de modo que resolvi mesclar autores com livros alheios. E apesar da hipótese cômica que seria de: George Martin escrevendo A Torre Negra, Carlos Ruiz Zafón opinando em Dragões de Éter, eu aprovaria a ideia de ver a acidez da escrita madura de Lionel Shriver em um YA como Harry Potter.

7- Se pudesse, qual livro desleria? (desleria: se pudesse voltar no tempo, não leria).
Creio que ainda não cheguei ao ponto de ficar com raiva de ter lido um livro por não gostar dele e desler um livro me soa crítico demais. Sempre podemos absorver algo deles e as experiências ruins servem para evidenciar as boas. É claro que há leituras que não gostamos, e entre essas, eu destacaria: Enfeitiçadas de Jessica Spotswood e Dupla Falta de Lionel Shriver.

8- Qual leitura foi a mais difícil para ti? Justifique
A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón foi tão difícil que ainda não consegui terminar, me levando a colocar o livro de lado e continuar num outro tempo. Não que o livro seja gigante ou a leitura seja ruim, muito pelo contrário, eu estava gostando muito! Porém, por consequência de terceiros, se tornou uma leitura “picada”, o que acabou me desanimando, fazendo-me adiar o término. Demorei muito tempo para chegar à metade do livro e quando vi que a narrativa já estava se tornando confusa para mim, resolvi parar, ler outra coisa e depois retornar.

9- Qual livro você gostaria de ver adaptado para o cinema?
Uma versão decente de A Bússola de Ouro e a continuação da trilogia. Seria muito interessante ver também os romances policiais de Chelsea Cain.

10- Indique três leituras indispensáveis. Apenas três!
Apenas três? Que difícil!
- Precisamos Falar sobre o Kevin – Lionel Shriver
- A Guerra dos Tronos – George R.R. Martin
- O Pistoleiro – Stephen King

11- No que seu blog contribuiu para sua formação enquanto leitor?
Além de servir como um diário de leitura, o blog vem contribuindo para uma reflexão de gêneros literários, me ajudando conhecer mais autores e títulos e é claro, incentivando a leitura sempre!

Blogs Indicados:

Perguntas a serem respondias
1. O que o motivou a fazer um blog/vlog?
2. Se pudesse ficar frente a frente com um personagem, qual seria?
3. Qual seria sua solução para um final que você não tenha gostado?
4. Se tivesse que escolher um livro para viver eternamente, qual escolheria?
5. Já comprou um livro devido à capa e após lê-lo se arrependeu? Qual?
6. O que você espera do seu blog/vlog?
7. Se tivesse que escolher apenas um autor para ler eternamente, qual seria?
8. Loja física ou virtual? Sebo ou livrarias?
9. Qual o livro que mais te decepcionou?
10. Que livro que, enquanto lia, não via a hora de chegar ao fim?
11. Com que autor você estabelece uma relação de amor e ódio?


quinta-feira, 12 de março de 2015

A Cabana - William P. Young

"Se você odiar esta história, desculpe, ela não foi escrita para você"






Título: A Cabana

 Autor: William P. Young 

Título Original: The Shack 

Tradução: Alves Calado

Editora: Sextante 

2008







      Religião é um tema delicado para ser discutido e não me surpreendi quando soube que a intenção inicial do autor não era publicar o livro, mas sim distribuir quinze cópias para amigos e parentes. Pelo incentivo dos mesmos amigos, William P. Young deu chance para a publicação de sua obra por uma pequena editora dos Estados Unidos.       Como um livro de publicação pequena, tratando de um tema tão polêmico tornou-se um best-seller mundial? A resposta, você encontrará apenas na cabana.

“A história que você vai ler é resultado de uma luta minha e do Mack, que durou meses, para colocar em palavras o que ele viveu. Tem um lado um pouco... digamos, muito fantástico. Não vou julgar se algumas partes são verdadeiras ou não. Prefiro dizer que, mesmo que algumas coisas não possam ser cientificamente provadas, talvez sejam verdadeiras.”

      Em A Cabana, somos apresentados a Mackenzie Allen Phillips e sua família. Mesmo com os traumas familiares vividos no passado, Mackenzie – ou Mack – trata seus filhos e esposa com todo amor e carinho. Mack e seus três filhos, Josh, Kate e a caçula Missy, resolvem fazer uma viagem de fim de semana para um acampamento, que mesmo sem saber, marcaria a vida da família pra sempre. Durante um ocorrido, onde Mack teve que ajudar Josh e Kate, Missy, sua filha caçula, é raptada por um maníaco. Inicia-se então uma investigação em busca de Missy e embora o empenho desesperador do pai à procura de Missy seja comovente, eles não podem evitar os fatos. Missy fora assassinada. Assassinada em uma velha cabana

“Se Deus é tão poderoso, por que não faz nada para amenizar o nosso sofrimento?”

      Três anos se passam. Três duros anos com a Grande Tristeza rondando a família. Certo dia, em busca da correspondência, Mack encontra um bilhete o convidando a voltar à cabana. Como se não fosse o bastante, o bilhete fora escrito por ninguém menos que Deus.

“Será que Deus escreve bilhetes? E por que na cabanaícone de sua dor mais profunda? Certamente Deus teria lugares melhores onde se encontrar com ele.”

      A narrativa é flexível e surpreendente. Diferente de qualquer assunto religioso que eu já tenha lido. Na cabana, você encontrará a quebra de estereótipos e pensará em Deus de uma forma muito mais perplexa, porém muito mais compreensível que o habitual, forçando-o a pensar: “Se estivesse frente a frente com Deus, o que diria?”.
      Pois é, Mackenzie teve a chance de ficar perante o que mais culpou pela morte da filha, sem saber que ele fora o que mais lhe amara. A Cabana é um livro de reconciliação e sua ferramenta são os paradoxos. Lá, Mack descobriu que a vida não é feita de tristezas pós-óbito e que Deus nunca o deixara.
      Realmente é uma leitura que acerta nosso senso, pois é impossível não se identificar com Mack. Afinal, como o autor mesmo citou:



“[…] A maioria de nós tem suas próprias tristezas, sonhos partidos e corações feridos, cada um viveu perdas únicas, nossa própria ‘cabana’. Oro para que você encontre a mesma graça que eu recebi lá e que a presença constante de Papai, Jesus e Sarayu preencha seu vazio interior com alegria indizível”.