Essa postagem faz parte do Leitura em Dupla, em parceira com o Leia-me Já!. Confira a parte I aqui, parte II aqui e parte III aqui
Quarta seção de discussão de Tubarão de
Peter Benchley. Capítulos 12 a 14.
Tópicos
discutidos nesse post:
- O Confronto
final
- Final geral
- Finais
individuais: Brody e Ellen
- Finais
individuais: Larry Vaughan
- Finais
individuais: Matt Hooper e Quint
- Conclusão e
considerações finais.
[O CORUJAL NÃO
SE RESPONSABILIZA PELOS SPOILERS AQUI POSTADOS!]
O
CONFRONTO FINAL
LEIA-ME JÁ!: Havíamos
especulado sobre o final, você acreditando na possibilidade de Brody morrer e
eu não. Não considerava essa hipótese por Brody ser o protagonista, e isso não
seria muito comum. O que não consideramos foram as mortes tanto de Hooper
quanto de Quint. Acreditávamos que apenas uma pessoa morreria na caçada, e no
caso de Hooper, a traição de Ellen permaneceria no passado, e foi o que
aconteceu. Creio que a morte de Quint, no entanto, serviu apenas para
dramatizar um pouco a trama.
O CORUJAL: Realmente.
Por mais que nossas apostas de quem sairia vivo daquela caçada, ambos
concordávamos que apenas uma pessoa morreria, e não foi o que aconteceu.
LEIA-ME JÁ!: Gostei muito
das cenas de ação da caçada, a todo momento me vinha a música do filme na
cabeça. Só me incomodou o fato do tubarão sair muitas vezes da água, acho que
isso não é um comportamento natural desse animal. Não pude deixar de lembrar do
começo do livro, quando o autor descreve o ponto de vista tanto da vítima
quanto do tubarão durante o ataque. Nesse último confronto, no entanto, vemos o
ponto de vista apenas de Brody, e isso confirma nossa especulação de que o
autor não está mais preocupado em contar a história a partir do tubarão, e sim
da vida dessas pessoas.
O CORUJAL: Realmente
não há ponto de vista do tubarão em nenhum momento. Um outro ponto que eu
gostaria de ressaltar é que quando o Brody fica sabendo que o Hooper os
acompanhará na caçada, ele fica tão preocupado com o cientista, que acaba
esquecendo o tubarão. Somente quando ele finalmente fica cara à cara com o
tubarão que ele começa a perceber o quão grave é aquela situação. Achei
interessante essa transição, porque em nenhum momento do livro, Brody vê o
tubarão como uma ameaça pra si, o tempo todo ele o considera apenas mais uma
ameaça à população que ele precisa lidar. E quando finalmente ele vê o tubarão
de perto, “cai a ficha” e ele percebe que ele também corre perigo.
“Sua mente estava cheia de imagens de algo como um torpedo se elevando na
escuridão do mar e estraçalhando o corpo de Christine Watkins em pedaços; do
menino na boia sem saber, sem ao menos desconfiar, até de repente ser atacado
por uma criatura de pesadelo; e de pesadelos que sabia que teria, sonhos de
violência e sangue, e uma mulher gritando que ele tinha matado seu filho. (página
229)
LEIA-ME JÁ!: Sim,
conseguimos perceber que ele só percebe o que o tubarão realmente representa
quando se depara com ele. Há outro fator que me incomodou nesse último
confronto, não sei se por intenção do autor ou pela perturbação das
personagens, mas me pareceu que o tubarão possuía algum tipo de inteligência,
como se soubesse o que tinha que ser feito. Não gostei disso porque me soou
mais um terror sobrenatural, o que não é o caso. Durante a caçada as
personagens retratam a cena como se o tubarão tivesse alguma estratégia para
pegá-los, e isso tira o aspecto verossímil que o livro teve até esse ponto.
“Brody lembrou-se daquele sorriso de soslaio a encará-lo de dentro d’água.
Não sei. Disse. Ontem aquele peixe, com certeza, parecia mal, como se ele quisesse ser
mal, como se soubesse o que estava fazendo.
O CORUJAL: Também
reparei nesse ponto e não gostei. Me lembro de uma cena onde Quint está mirando
de frente para o tubarão, pronto para atingi-lo, mas o peixe passa por debaixo
do barco e ataque o outro lado, como se soubesse que estava correndo risco. No
decorrer do livro todo eles dizem que o tubarão é um animal que age por extinto,
que só responde à fome e que ataca tudo que vê pela frente, mas não foi isso
que aconteceu. Mas há também a possibilidade de toda essa “inteligência animal”,
seja proposital. Às vezes o autor quis retratar dessa forma para mostrar que é
uma consequência da tensão das personagens.
LEIA-ME JÁ!: Eu quero
acreditar que o autor fez isso para mostrar como aquelas pessoas estavam
assustadas a ponto de imaginar coisas, e não que realmente aconteceu.
FINAL
GERAL
LEIA-ME JÁ!: O que você
achou do autor ter terminado o livro naquele ponto? Achei curioso a forma como
o livro acaba, já que a cena inicial é uma mulher entrando na água, e a final é
Brody saindo dela. No começo o leitor tem a impressão de que a mulher é o
intruso, de que o mar é domínio do tubarão. Já no final, Brody retorna do
confronto e sai da água, tive a impressão de que ele conquistou aquele
território, já que matou seu antigo “dono”.
O CORUJAL: É o clássico
final em aberto, né? Porque a gente não fica sabendo realmente como acabou.
Acredito que a cidade prosperou e Ellen manteve seu segredo de adultério.
Quanto a esse tipo de final, não tenho nenhum problema, pois acho que nenhum
livro tem realmente um fim, nunca há uma conclusão absoluta, portanto, pra mim
é indiferente. Isso que você disse sobre o domínio marinho, não havia me
ocorrido, mas faz todo o sentido!
LEIA-ME JÁ!: Eu sei que
muitas das ligações que acontecem em um livro, nem é proposital da parte dos
autores, muitas vezes é coincidência, mas não custa nada tentarmos encaixar as
coisas, e eu tenho uma teoria. O bom do final em aberto é que o leitor tem uma
liberdade de pender as coisas para o lado que ele desejar, mas acho que o autor
deixou algumas pistas sobre o que ele espera dessa interpretação.
FINAIS
INDIVUDUAIS: BRODY E ELLEN
O CORUJAL: Por mais que
eu tenha dito que não me surpreenderia se Brody morresse, o final desses dois
foi bem previsível pra mim. Ellen não disse nada da traição e creio que eles
ficaram juntos. Só não contava com a pronunciamento do Meadows, o jornalista,
que publicou uma matéria dando votos heroicos ao nosso protagonista. Chega a
ser cômico o fato de que o tubarão foi a solução para todos os problemas
externos o enredo, pois mesmo com todas as mortes, sem o tubarão nenhum
problema da cidade e da vida de Brody seria resolvido. Isso me leva a refletir
que não podemos atingir o sucesso sem perdas pelo caminho.
LEIA-ME JÁ!: Sim, é
como se o tubarão tivesse aparecido para ajustar as coisas, colocar os pingos
nos “is”. É verdade que o final fica em aberto, mas como eu disse antes, eu
percebi algumas dicas que o autor deixou no decorrer da história. No caso da
traição, por exemplo, quando o prefeito visita a Ellen, fica claro que ela quer
ficar com o Brody, que se arrependeu do que fez e que reconhece o
relacionamento.
“Enquanto
pensava no que Vaughan tinha dito, começou a reconhecer a riqueza de sua vida:
um relacionamento com Brody era mais gratificante que qualquer um que Larry
Vaughan pudesse experimentar; um amálgama de testes menores com pequenos
triunfos que juntos, resultavam em algo semelhante à felicidade. E à medida que
seu reconhecimento crescia, crescia também um certo arrependimento por ter
demorado tanto pra ver o desperdício de tempo e emoção na tentativa de se
apegar ao passado. Subitamente teve medo – medo de ter amadurecido tarde
demais, de que algo pudesse acontecer a Brody antes de ela poder aproveitar
essa consciência. Olhou para o relógio: seis e vinte da tarde. Já era pra ele
estar em casa. Aconteceu algo com ele.
Pensou. Oh, por favor, Senhor, não ele. (página
235)
LEIA-ME JÁ!: Já o
Brody, o momento em que ele desiste de procurar a verdade foi com o tubarão. No
barco, Brody confronta Hooper, que diz que esteve com Daisy Wicker (que na
realidade era lésbica). Entretanto, em um dado momento quando eles voltam da
expedição, Brody pensa em ligar para Daisy para confirmar, mas desiste. Acho
que a morte de Hooper teve o propósito de reatar o relacionamento entre Ellen e
Brody.
“Depois
de atracar o barco, Brody caminhou até o carro. No fim do cais havia uma cabine
telefônica. Ele parou ao lado dela, pronto para pôr em prática sua resolução
anterior de ligar para Daisy Wicker. Mas reprimiu o impulso e foi para o carro.
Pra que? Pensou. Se
houve algo, agora acabou. (página 258)
O CORUJAL: Um confronto
no fim seria mais interessante, mas tudo acabou bem. Interessante analisar que
eles mantêm o relacionamento por meio de outras pessoas, já que Ellen e Brody
só ficaram juntos pela soma de fatores externos.
LEIA-ME JÁ!: Também esperava
um confronto, mas acho que expectamos da maneira errada. Pela narrativa ser do
ponto de vista de Brody, ficamos esperando uma atitude dele, mas na realidade,
era Ellen que estava insatisfeita com o casamento. A vinda do tubarão fez com
que Ellen pudesse experimentar um caso com Hooper, mas aí ela percebeu que não
era isso que ela queria realmente.
FINAIS
INDIVUDUAIS: LARRY VAUGHAN
O CORUJAL: Achei justo
Larry se dar mal por tudo que ele fez pela cidade, mas fico receoso no final,
quando Vaughan diz à Ellen que seus negócios ficaram para os sócios. Fico
pensando se não teria nenhum risco desse suposto sócio exercer algum poder sob
a cidade, e isso seria pior que Larry.
LEIA-ME JÁ!: Sim,
também acho justo o que aconteceu com ele por tudo que ele fez (e pelo que não
fez). Agora essa ideia do sócio tomar conta dos negócios remonta o predador,
acho que deixa a sensação de “Brody matou um tubarão, mas existem outros, um
mar inteiro de tubarões prontos para atacarem”.
O CORUJAL: Isso é legal
porque tira o clichê de que tudo acaba bem.
FINAIS
INDIVUDUAIS: MATT HOOPER E QUINT
LEIA-ME JÁ!: Achei
legal Quint ter sido afogado e não atacado pelo tubarão. O autor se conteve
quanto a isso e dá um toque mais realista à história. Em outras palavras,
mostra que mesmo em um livro sobre um tubarão assassino, morrer em sua mandíbula
não é a única forma de morrer.
O CORUJAL: É
interessante o papel que a morte do Quint desencadeia no enredo, porque através
dela, percebemos a opinião do autor sobre esse tipo de pescador, que não
respeita a vida marinha e a natureza em si.
“É o que parece quando a boca deles fica aberta. Disse
Quint. Não faz parecer mais nada do que
ele é. Ele é só um balde estúpido de lixo.
Como
você pode dizer isso? Disse Hooper. Aquele
peixe é uma beleza. É o tipo de coisa que faz você acreditar em Deus. Te mostra
o que a natureza é capaz de fazer quando faz a sério.
Não
fala merda. Disse Quint. (página 227)
LEIA-ME JÁ!: Acho que a
morte do Quint foi a forma do autor se vingar dele (risos). Já a morte de
Hooper, achei meio tosco a forma como ele insistiu em entrar na gaiola. Depois
de ver o tamanho do peixe e do perigo que ele oferecia, foi estupidez dele mergulhar.
O CORUJAL: Também achei
estranho um especialista como ele se arriscar tanto. Mas em termos de
descrição, nunca vi um capítulo tão agonizante como esse! A parte em que o
tubarão começa a abrir espaço entre a gaiola é muito sufocante.
LEIA-ME JÁ!: Verdade, a
tensão que o autor cria na narrativa é fenomenal! E na parte em que eles estão
caçando, mas o peixe ainda não apareceu, não sei você, mas eu senti que o
tubarão estava por perto. Sem contar a música que consegui “ouvir”, tudo isso
pela forma como o autor conduz a narrativa.
O CORUJAL: Realmente, a
narrativa tem esse ritmo, como se o tubarão estivesse na espreita observando,
pronto para atacar a qualquer momento. Isso é um ponto positivo para o autor,
já que o leitor consegue realmente sentir a tensão, e isso é uma coisa muito
difícil de se fazer.
CONCLUSÃO
E CONSIDERAÇÕES FINAIS
LEIA-ME JÁ!: Acho que
no fim a cidade prosperou, já que o tubarão virou notícia no país, e
consequentemente, uma atração.
O CORUJAL: Analisando o
livro como um todo, gostei bastante! Acho que Peter Benchley tem um modo de
descrever único que funciona com uma tensão que ele vai criando ao longo da
narrativa. Isso é uma coisa que eu nunca tinha visto e que me surpreendeu
muito. Gosto da forme como ele cria o terror psicológico, como você mesmo
disse, não há mortes pra a todo momento. O terror em si está nas entrelinhas, é
algo extremamente sublime.
LEIA-ME JÁ!: Sim! Achei
estranho algumas resenhas que li, onde as pessoas reclamavam que o autor se
demorava demais em descrever as pessoas e não dava muita atenção às mortes. Mas
como você disse, é um terror sublime! Há todo um pano de fundo. E sinceramente,
se fosse apenas um livro onde um tubarão mata pessoas, não haveria a construção
muito bem feita das personagens, e nós, leitores, não nos importaríamos com
elas. Acho que o modo como a obra foi escrita é a melhor possível, a tornou bem
mais humana.
O CORUJAL: Realmente, a
as personagens são muito bem criadas. Uma coisa que gostei muito no autor é que
não há exagero no enredo. Tudo bem que não é comum, mas ele não extrapola como
outros autores. É uma história simples, sem nada absurdo, fatos que realmente
podem acontecer, e mesmo assim impressiona. Achei perfeito!
LEIA-ME JÁ!: Verdade, o
autor não se demora e nem exagera. É simples e certeiro.