domingo, 8 de novembro de 2015

Passeando por: A Coisa


UMA ANÁLISE DESCRITIVA DE PENNYWISE


Aviso: O texto que segue não se trata de uma resenha sobre o livro A Coisa (aqui). E O Corujal não se responsabiliza por qualquer spoiler aqui postado.

O QUE É A COISA?
      Pennywise nada mais é que uma das múltiplas facetas da Coisa, portanto, antes de focarmos no nosso querido palhaço, vejamos afinal, o que é a Coisa.
      Desde o princípio, King deixa uma enorme cratera na cabeça do leitor quanto à origem e natureza da Coisa. Sabemos quais são seus propósitos, o porquê dos ataques e, é claro, seu modos operandi. Entretanto, o leitor não possui nenhum tipo de ciência do que realmente é a Coisa.

"Aromas de terra e umidade de legumes estragados se misturavam com o aroma inconfundível e inescapável, o cheiro do monstro, a apoteose de todos os monstros. Era o cheiro de uma coisa para qual ele não tinha nome: o cheiro da Coisa, agachada, espreitando e pronta para atacar. Uma criatura que comeria qualquer coisa, mas que era particularmente faminta por carne de garoto." (página 16)

      O autor nos explica mais tarde que, essa suposta entidade, não possui forma alguma. Que se trata, na verdade, de um grande espelho refletindo os pesadelos e o que há de pior nas pessoas, fazendo com que a verdadeira face da Coisa permaneça em mistério.

"A mulher do escritor agora estava com a Coisa, viva, mas não exatamente viva; a mente dela foi completamente destruída pela visão da Coisa como ela realmente era, com todas as pequenas máscaras e glamoures jogadas de lado. E todos os glamoures eram apenas espelhos, e claro, que devolviam pra pessoa apavorada a pior coisa na mente dele ou dela, cristalizando imagens como um espelho devolveriam o reflexo do sol para um olho aberto que nem desconfia a ponto de deixá-lo cego" (página 985)

      Sabemos, portanto, que a Coisa é um ser por trás de várias peles, e como se não fosse o bastante, uma
força maligna presente em toda a cidade.

"Vou contar para Bill, para ele entender. Está em todas as partes de Derry. Ela simplesmente ocupa os espaços vazios, só isso" (página 879)

"— Eu t-t-trouxe vocês a-aqui p-p-p-p-porque n-n-nenhum lugar é s-s-seguro [...] —D-D-Derry é a Coisa!" (página 943)

      Curiosamente, apenas as crianças têm qualquer tipo de contato com a coisa. O autor explora bastante esse lado, deixando explícito o que a imaginação das crianças podem causar à elas mesmas. 

"Era como um vilão de quadrinhos. Por que eles viam assim? Pensavam nele assim? Sim, talvez fosse isso. Era coisa de criança, mas parecia que era disso que essa coisa se alimentava, de coisa de criança" (página 694)

QUEM É PENNYWISE?

      Pennywise é a mais comum, e sem dúvida a mais marcante, forma da Coisa. Ele é descrito como um palhaço com roupa prateada adornada com grandes pom poms laranjas. 
      O grande trunfo de King na criação do palhaço é na personalidade dele. Pennywise é manipulador, cruel e frio, tendo como traço mais forte a artificialidade. O palhaço é tão falso, que chega a ser cômico (com perdão do trocadilho). As más intenções de Pennywise são extremamente visíveis, porém em meio às crianças, passam despercebidas. 
        Toda essa falsidade leva o leitor a fazer uma pequena conexão com a realidade. Sim, muitas vezes usamos da "força do maior"para enganar as crianças na cara dura. Seja por proteção, pra poupá-las ou por preguiça de explicar algo. Nós sempre moldamos a realidade pras crianças, e isso só é tão fácil porque elas precisam acreditar no que lhes é dado.
      A reflexão que vem junto com esse ponto é bem interessante, e quando analisado sob um olhar um pouco mais dramatúrgico, só faz aumentar o terror psicológico criado por King. Ao longo da trama, é inevitável que surjam perguntas na cabeça do leitor do tipo "e se a Coisa realmente existisse?", e esse incômodo psicológico só é possível através de Pennywise. 

"A Coisa sempre se alimentou bem de crianças. Muitos adultos poderiam ser usados sem saber que foram usados, e a Coisa já tinha se alimentado de alguns mais velhos ao longo dos anos. Os adultos tinham seus próprios pavores, e as glândulas deles podiam ser invadidas, abertas, para que todos os componentes químicos do medo jorrassem pelo corpo e salgasse a carne. Mas os medos das crianças eram mais simples e normalmente mais poderosos. Os medos das crianças costumavam ser invocados com um único rosto... e se fosse preciso usar isca, ora, que criança não adorava um palhaço?" (página 986)




      O palhaço virou ícone da cultura pop e marcou, junto com outros personagens, o terror dos anos oitenta/noventa. Frases como "Você quer um balão?" e "Todos flutuam aqui em baixo" ainda lembram o rosto macabro de Pennywise. 






PENNYWISE NO CINEMA
Tim Curry
      Em minha resenha de A Coisa, eu comentei em como a atuação fantástica de Tim Curry me impressionou, e reforço aqui minha opinião. Quando li o livro já sabia da existência do filme, e durante a leitura, uma das coisas que mais me intrigara foi a preocupação na adaptação do palhaço. Eu queria muito que a ironia, a artificialidade e o tom mentiroso e medonho de Pennywise fossem mantidos, mas achava a tarefa um tanto difícil e não botava fé na adaptação cinematográfica.
      Para minha felicidade, eu estava completamente errado. O ator Tim Curry conseguiu captar os traços mais marcantes do palhaço e passar para o público de uma forma muito original. Posso assegurar plenamente que quem não leu o livro, mas assistiu ao filme, não perdeu nada com relação a esse personagem. 
Will Poulter
      Foi anunciado recentemente um remake do filme, onde Will Poulter (As Crônicas de Nárnia, Maze Runner) interpretaria o palhaço. Isso me deixa apreensivo, pois o ator não possui experiência nesse tipo de filme, podendo levar a imagem do personagem para outro rumo. É claro que não deixa de ser uma oportunidade para Will trabalhar em um meio diferente. Tudo dependerá do esforço do ator....






RUMORES
Há um pequeno rumor que não podia ficar de fora deste post. Algumas pessoas especulam que Stephen King se baseou em John Wayne Gacy (o Palhaço Assassino) para criar Pennywise. John foi um assassino em série acusado de matar pelo menos 33 garotos entre 1972 e 1978 em Chicago, no Illinois. O palhaço foi sentenciado a 14 anos de prisão antes da pena de morte. Durante essa pena, John pintou quadros que foram leiloados por até $20.000. o "Palhaço Assassino" foi morto por injeção letal em maio de 1994.






Este foi o Passeando por: A Coisa, fiquem ligados nas próximas postagens!


Um comentário:

  1. A Coisa é um dos "monstros" mais intrigantes que King já criou. Muito legal o insight da postagem, pois eu, por exemplo, que não li o livro nem assisti à adaptação, sabia pouco da criatura.

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