“E um lobo lhe devorou a avó.”
Título: Caçadores de Bruxas
Autor: Raphael Draccon
Série: Dragões de Éter
Editora: Leya
Editora: Leya
2010
Passadas de gerações a
gerações, as historias dos contos de fadas dos Irmãos Grimm foram difundidas,
adaptadas, readaptadas e reescritas. Este é o tema abordado por Raphael Draccon
em sua trilogia Dragões de Éter. A história do primeiro volume, Caçadores de
Bruxas, vai trazer ao leitor o mundo de Nova Ether, cujo fora criado por
semideuses. Mesmo com a abordagem direta e dinâmica do autor, tudo é uma
confusão, ao menos a princípio. Como o tema deste primeiro volume trata-se de
bruxas, o autor nos remete à histórica Caçada de Bruxas, que há muito tempo
atrás, fora liderada pelo atual rei do reino de Arzallum, Primo Branford,
supostamente eliminando de vez a ameaça que as bruxas causavam. Devo confessar
que me senti intrigado com a figura do tal rei, fato devido ao perfeccionismo
em relação ao personagem. Mas, já fazendo um adendo à escrita do autor, preciso
dizer também que “paguei com a língua” mais tarde.
“Havia chegado onde
estava por sua competência em caçar bruxas e agora sofria pela tormenta de
descobrir que o homem tem bruxas próprias dentro de si, muito mais difíceis de
serem caçadas, pois não se pode ordenar que as matem por ignorância”.
Aos olhos do povo tudo
segue bem após a grande vitória de Primo sobre a bruxaria. Porém, indícios do
retorno destas fadas caídas, começam a surgir aqui e ali, fazendo coisas
estranhas acontecerem, sendo este ponto o desenrolar da história.
Novamente falando da
escrita de Draccon,que é inigualável (e apenas quem leu o capítulo trinta e
cinco do primeiro ato pode dizer). Draccon foi o primeiro ator que conseguiu
fazer com que eu realmente “visualizasse” a cena em questão. Não sei se isso se
deve a seu estilo de escrever que mesmo simplório é bem objetivo, e talvez seja
exatamente isso seu diferencial. Fico feliz em saber que minha opinião mudou a
respeito da escrita brasileira em relação à ficção fantasiosa, já que eu particularmente
não levava fé nisto. O autor consegue narrar uma história que pode ser lida
tanto para uma criança quanto pra um adulto. Digo isso porque, mesmo com a
objetividade e a inocência apresentada diretamente, o que seria ideal para uma
criança, há uma quantidade vasta de informações “adultas” nas entrelinhas.
Informações estas que me fizeram perceber a atrocidade que seria um lobo
devorando uma senhora, um homem-sapo, crianças comendo uma casa feita de doces
e até mesmo as bruxas em questão. A reação que eu tive a cada fim de capítulo
era a de “como somos capazes de ler isso para crianças?”.
É interessante ver os
contos de fadas mesclados entre si com uma linha de raciocínio linear, pois
proporciona um melhor entendimento e uma reflexão mais aprofundada sobre eles.
É fato que Draccon fez coisas muito arriscadas em sua versão dos contos, onde o
leitor pode estranhar a princípio. É notável também a vasta referência à
cultura pop por todo o livro (e isto o autor mesmo relata), mas não pude deixar
de notar também uma grande semelhança com As Crônicas de Gelo e Fogo do George
R.R. Martin, principalmente em relação a alguns personagens e confesso que isso
me decepcionou um pouco.
O livro tem tudo pra
ser uma leitura “cinco estrelas”, mas há certos pontos onde me decepciona e
isto é totalmente particular, já que não se trata de alguma falha do autor, mas
sim características próprias dos contos de fadas, pois mesmo em um ponto de
vista novo, as histórias não deixaram suas essências, onde há sempre um final
feliz.
Ou não?
A questão é que o
leitor deve estar ciente do que está prestes a ler e é claro, estar ambientado
com as clássicas histórias para crianças.
“E era essa saga, a
caçada humana mais violenta da história desse e de outros Reinos, envolvendo a
primeira guerra entre homens e bruxas, o tema daquele espetáculo teatral
apresentado pela rainha Terra naquele dia no Majestade
A histórica Caçada de Bruxas”.