“A senhora vê alguém morto e chora,
pensando que a morte é terrível. Na verdade, no entanto, a senhora está chorando
por si mesma, não pelo morto. A senhora se vê morta... no entanto, ao mesmo
tempo, está consciente do que acontecesse ao seu redor. O morto, entretanto,
não tem consciência. Assim, para o defunto, a morte não é nem um pouco
terrível. É indolor, física e mentalmente. É zero”.
Título: A Noite dos Bruxos
Autor: Susan Claudia
Título Original: Mrs. Barthelme's Madness
Tradução: Tonie Thomson
Editora: Círculo do Livro
1976
Neste romance de Susan Claudia, somos levados à Rachel
Barthelme, uma mãe de família com o casamento falido. Rachel leva uma vida
pacata. É esposa de um dos maiores empresários do país, mãe três filhos que
gosta muito, entretanto, sua vida se resume somente a isto. Como a própria
narrativa nos conta, Rachel crescera escutando “Quando você se casar, Rachel...”.
Sua vida, mesmo monótona, é normal, até então. Porém, quando esta voltando para
casa, após levar sua melhor amiga ao aeroporto, Rachel acaba envolvendo-se em
um acidente.
É Halloween e pelas redondezas, há crianças constantes
à procura de guloseimas. Rachel acaba encontrando, de maneira infortuna, um
grupo deles. Um grupo de jovens mascarados. O resultado foi atropelamento de um
garoto, que segundo Rachel, acabara morrendo. A protagonista é perseguida pelas
crianças, foge e aciona a polícia. O problema, é que os oficiais não
encontraram nenhum garoto em nenhum hospital nenhuma marca de atropelamento no
carro de Rachel e muito menos qualquer grupo de mascarados. E é neste ponto que
a trama se desenrola. O livro vai retratar a paranoia de Rachel quanto a isso,
já que ela afirma estar sendo perseguida por essas crianças.
O enredo é muito intrigante pelo fato de o leitor não
saber ao certo se Rachel está ou não indo ao delírio. Por acompanhar a
protagonista e pela escrita da autora, cremos que tudo realmente aconteceu e
que Rachel apenas não consegue expor os fatos. Por outro lado, quando todo o
resto dos envolvidos apresentam provas concretas de que a lógica de Rachel é
impossível, o leitor se contradiz.
Os planos que Rachel sempre tivera fora de se separar
do marido após os filhos irem para a faculdade, porém, com a vinda de um
terceiro filho, isso ficara fora de cogitação, condenando-a a continuar vivendo
sua vida infeliz. Isso leva seu psiquiatra a crer que isso não passa de uma
depressão pós-parto e que toda a história são alucinações que remetem ao
subconsciente de Rachel culpando sua própria filha por atrapalhar seus planos.
Ele afirma também que Rachel é perigosa para o bebê, chegando a oferecer risco
de vida.
“Não pode ter nenhum objeto agudo em casa... facas,
tesouras, lâminas... Tem medo de matar a criança.”
Claro que ao primeiro momento, isso soa ridículo,
porém, analisando as palavras da personagem páginas a trás. Nos contradizemos
novamente.
“Mas agora, como você mesma disse, eu tenho um bebê.
Adicione dezessete anos à minha sentença, até que o bebê cresça e vá para a
faculdade. Mais dezessete anos de começar o dia me amarrando na estaca e
ateando fogo à lenha sob meus pés. Isso é exatamente o que significa manter
acesa a chama do lar.”
A autora, mesmo com uma escrita simples, consegue
passar sua mensagem e o mistério nos aprisiona até o fim. Devo confessar que o
final me desapontou de um certo modo. É o típico fim adicione-aqui-o-que-achar-melhor.
É claro que isso é esplêndido, nos deixando com desfechos alternativos, porém,
na outra mão, nunca saberemos se Rachel está realmente louca ou não.
É curioso ressaltar a péssima escolha do título na
hora da tradução. O título original se enquadra
muito melhor que “A Noite dos Bruxos”, que só se adere ao Halloween. Eu acharia
muito melhor se fosse traduzido ao pé da letra mesmo “A Loucura da Sra.
Barthelme”
“Sim. Ela tem seu próprio mundo, no qual e
enclausurou. Para ela... é um lugar feliz. É onde quer estar. No nosso mundo
encontrava-se em constante angústia. As pressões a esmagavam. Agora no seu
mundo... no seu mundo particular... encontrou paz. Por que não estaria feliz?”
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