sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Leitura em Dupla: Parte IV

Essa postagem faz parte do Leitura em Dupla, em parceira com o Leia-me Já!. Confira a parte I aquiparte II aqui e parte III aqui

Quarta seção de discussão de Tubarão de Peter Benchley. Capítulos 12 a 14.

Tópicos discutidos nesse post:
- O Confronto final
- Final geral
- Finais individuais: Brody e Ellen
- Finais individuais: Larry Vaughan
- Finais individuais: Matt Hooper e Quint
- Conclusão e considerações finais.

[O CORUJAL NÃO SE RESPONSABILIZA PELOS SPOILERS AQUI POSTADOS!]

O CONFRONTO FINAL

LEIA-ME JÁ!: Havíamos especulado sobre o final, você acreditando na possibilidade de Brody morrer e eu não. Não considerava essa hipótese por Brody ser o protagonista, e isso não seria muito comum. O que não consideramos foram as mortes tanto de Hooper quanto de Quint. Acreditávamos que apenas uma pessoa morreria na caçada, e no caso de Hooper, a traição de Ellen permaneceria no passado, e foi o que aconteceu. Creio que a morte de Quint, no entanto, serviu apenas para dramatizar um pouco a trama.
O CORUJAL: Realmente. Por mais que nossas apostas de quem sairia vivo daquela caçada, ambos concordávamos que apenas uma pessoa morreria, e não foi o que aconteceu.
LEIA-ME JÁ!: Gostei muito das cenas de ação da caçada, a todo momento me vinha a música do filme na cabeça. Só me incomodou o fato do tubarão sair muitas vezes da água, acho que isso não é um comportamento natural desse animal. Não pude deixar de lembrar do começo do livro, quando o autor descreve o ponto de vista tanto da vítima quanto do tubarão durante o ataque. Nesse último confronto, no entanto, vemos o ponto de vista apenas de Brody, e isso confirma nossa especulação de que o autor não está mais preocupado em contar a história a partir do tubarão, e sim da vida dessas pessoas.
O CORUJAL: Realmente não há ponto de vista do tubarão em nenhum momento. Um outro ponto que eu gostaria de ressaltar é que quando o Brody fica sabendo que o Hooper os acompanhará na caçada, ele fica tão preocupado com o cientista, que acaba esquecendo o tubarão. Somente quando ele finalmente fica cara à cara com o tubarão que ele começa a perceber o quão grave é aquela situação. Achei interessante essa transição, porque em nenhum momento do livro, Brody vê o tubarão como uma ameaça pra si, o tempo todo ele o considera apenas mais uma ameaça à população que ele precisa lidar. E quando finalmente ele vê o tubarão de perto, “cai a ficha” e ele percebe que ele também corre perigo.

Sua mente estava cheia de imagens de algo como um torpedo se elevando na escuridão do mar e estraçalhando o corpo de Christine Watkins em pedaços; do menino na boia sem saber, sem ao menos desconfiar, até de repente ser atacado por uma criatura de pesadelo; e de pesadelos que sabia que teria, sonhos de violência e sangue, e uma mulher gritando que ele tinha matado seu filho. (página 229)

LEIA-ME JÁ!: Sim, conseguimos perceber que ele só percebe o que o tubarão realmente representa quando se depara com ele. Há outro fator que me incomodou nesse último confronto, não sei se por intenção do autor ou pela perturbação das personagens, mas me pareceu que o tubarão possuía algum tipo de inteligência, como se soubesse o que tinha que ser feito. Não gostei disso porque me soou mais um terror sobrenatural, o que não é o caso. Durante a caçada as personagens retratam a cena como se o tubarão tivesse alguma estratégia para pegá-los, e isso tira o aspecto verossímil que o livro teve até esse ponto.

Brody lembrou-se daquele sorriso de soslaio a encará-lo de dentro d’água. Não sei. Disse. Ontem aquele peixe, com certeza, parecia mal, como se ele quisesse ser mal, como se soubesse o que estava fazendo.

O CORUJAL: Também reparei nesse ponto e não gostei. Me lembro de uma cena onde Quint está mirando de frente para o tubarão, pronto para atingi-lo, mas o peixe passa por debaixo do barco e ataque o outro lado, como se soubesse que estava correndo risco. No decorrer do livro todo eles dizem que o tubarão é um animal que age por extinto, que só responde à fome e que ataca tudo que vê pela frente, mas não foi isso que aconteceu. Mas há também a possibilidade de toda essa “inteligência animal”, seja proposital. Às vezes o autor quis retratar dessa forma para mostrar que é uma consequência da tensão das personagens.
LEIA-ME JÁ!: Eu quero acreditar que o autor fez isso para mostrar como aquelas pessoas estavam assustadas a ponto de imaginar coisas, e não que realmente aconteceu.

FINAL GERAL

LEIA-ME JÁ!: O que você achou do autor ter terminado o livro naquele ponto? Achei curioso a forma como o livro acaba, já que a cena inicial é uma mulher entrando na água, e a final é Brody saindo dela. No começo o leitor tem a impressão de que a mulher é o intruso, de que o mar é domínio do tubarão. Já no final, Brody retorna do confronto e sai da água, tive a impressão de que ele conquistou aquele território, já que matou seu antigo “dono”.
O CORUJAL: É o clássico final em aberto, né? Porque a gente não fica sabendo realmente como acabou. Acredito que a cidade prosperou e Ellen manteve seu segredo de adultério. Quanto a esse tipo de final, não tenho nenhum problema, pois acho que nenhum livro tem realmente um fim, nunca há uma conclusão absoluta, portanto, pra mim é indiferente. Isso que você disse sobre o domínio marinho, não havia me ocorrido, mas faz todo o sentido!
LEIA-ME JÁ!: Eu sei que muitas das ligações que acontecem em um livro, nem é proposital da parte dos autores, muitas vezes é coincidência, mas não custa nada tentarmos encaixar as coisas, e eu tenho uma teoria. O bom do final em aberto é que o leitor tem uma liberdade de pender as coisas para o lado que ele desejar, mas acho que o autor deixou algumas pistas sobre o que ele espera dessa interpretação.

FINAIS INDIVUDUAIS: BRODY E ELLEN

O CORUJAL: Por mais que eu tenha dito que não me surpreenderia se Brody morresse, o final desses dois foi bem previsível pra mim. Ellen não disse nada da traição e creio que eles ficaram juntos. Só não contava com a pronunciamento do Meadows, o jornalista, que publicou uma matéria dando votos heroicos ao nosso protagonista. Chega a ser cômico o fato de que o tubarão foi a solução para todos os problemas externos o enredo, pois mesmo com todas as mortes, sem o tubarão nenhum problema da cidade e da vida de Brody seria resolvido. Isso me leva a refletir que não podemos atingir o sucesso sem perdas pelo caminho.
LEIA-ME JÁ!: Sim, é como se o tubarão tivesse aparecido para ajustar as coisas, colocar os pingos nos “is”. É verdade que o final fica em aberto, mas como eu disse antes, eu percebi algumas dicas que o autor deixou no decorrer da história. No caso da traição, por exemplo, quando o prefeito visita a Ellen, fica claro que ela quer ficar com o Brody, que se arrependeu do que fez e que reconhece o relacionamento.

Enquanto pensava no que Vaughan tinha dito, começou a reconhecer a riqueza de sua vida: um relacionamento com Brody era mais gratificante que qualquer um que Larry Vaughan pudesse experimentar; um amálgama de testes menores com pequenos triunfos que juntos, resultavam em algo semelhante à felicidade. E à medida que seu reconhecimento crescia, crescia também um certo arrependimento por ter demorado tanto pra ver o desperdício de tempo e emoção na tentativa de se apegar ao passado. Subitamente teve medo – medo de ter amadurecido tarde demais, de que algo pudesse acontecer a Brody antes de ela poder aproveitar essa consciência. Olhou para o relógio: seis e vinte da tarde. Já era pra ele estar em casa. Aconteceu algo com ele. Pensou. Oh, por favor, Senhor, não ele. (página 235)

LEIA-ME JÁ!: Já o Brody, o momento em que ele desiste de procurar a verdade foi com o tubarão. No barco, Brody confronta Hooper, que diz que esteve com Daisy Wicker (que na realidade era lésbica). Entretanto, em um dado momento quando eles voltam da expedição, Brody pensa em ligar para Daisy para confirmar, mas desiste. Acho que a morte de Hooper teve o propósito de reatar o relacionamento entre Ellen e Brody.

Depois de atracar o barco, Brody caminhou até o carro. No fim do cais havia uma cabine telefônica. Ele parou ao lado dela, pronto para pôr em prática sua resolução anterior de ligar para Daisy Wicker. Mas reprimiu o impulso e foi para o carro. Pra que?  Pensou. Se houve algo, agora acabou. (página 258)

O CORUJAL: Um confronto no fim seria mais interessante, mas tudo acabou bem. Interessante analisar que eles mantêm o relacionamento por meio de outras pessoas, já que Ellen e Brody só ficaram juntos pela soma de fatores externos.
LEIA-ME JÁ!: Também esperava um confronto, mas acho que expectamos da maneira errada. Pela narrativa ser do ponto de vista de Brody, ficamos esperando uma atitude dele, mas na realidade, era Ellen que estava insatisfeita com o casamento. A vinda do tubarão fez com que Ellen pudesse experimentar um caso com Hooper, mas aí ela percebeu que não era isso que ela queria realmente.

FINAIS INDIVUDUAIS: LARRY VAUGHAN

O CORUJAL: Achei justo Larry se dar mal por tudo que ele fez pela cidade, mas fico receoso no final, quando Vaughan diz à Ellen que seus negócios ficaram para os sócios. Fico pensando se não teria nenhum risco desse suposto sócio exercer algum poder sob a cidade, e isso seria pior que Larry.
LEIA-ME JÁ!: Sim, também acho justo o que aconteceu com ele por tudo que ele fez (e pelo que não fez). Agora essa ideia do sócio tomar conta dos negócios remonta o predador, acho que deixa a sensação de “Brody matou um tubarão, mas existem outros, um mar inteiro de tubarões prontos para atacarem”.
O CORUJAL: Isso é legal porque tira o clichê de que tudo acaba bem.

FINAIS INDIVUDUAIS: MATT HOOPER E QUINT

LEIA-ME JÁ!: Achei legal Quint ter sido afogado e não atacado pelo tubarão. O autor se conteve quanto a isso e dá um toque mais realista à história. Em outras palavras, mostra que mesmo em um livro sobre um tubarão assassino, morrer em sua mandíbula não é a única forma de morrer.
O CORUJAL: É interessante o papel que a morte do Quint desencadeia no enredo, porque através dela, percebemos a opinião do autor sobre esse tipo de pescador, que não respeita a vida marinha e a natureza em si.

É o que parece quando a boca deles fica aberta. Disse Quint. Não faz parecer mais nada do que ele é. Ele é só um balde estúpido de lixo.
Como você pode dizer isso? Disse Hooper. Aquele peixe é uma beleza. É o tipo de coisa que faz você acreditar em Deus. Te mostra o que a natureza é capaz de fazer quando faz a sério.
Não fala merda. Disse Quint.  (página 227)

LEIA-ME JÁ!: Acho que a morte do Quint foi a forma do autor se vingar dele (risos). Já a morte de Hooper, achei meio tosco a forma como ele insistiu em entrar na gaiola. Depois de ver o tamanho do peixe e do perigo que ele oferecia, foi estupidez dele mergulhar.
O CORUJAL: Também achei estranho um especialista como ele se arriscar tanto. Mas em termos de descrição, nunca vi um capítulo tão agonizante como esse! A parte em que o tubarão começa a abrir espaço entre a gaiola é muito sufocante.
LEIA-ME JÁ!: Verdade, a tensão que o autor cria na narrativa é fenomenal! E na parte em que eles estão caçando, mas o peixe ainda não apareceu, não sei você, mas eu senti que o tubarão estava por perto. Sem contar a música que consegui “ouvir”, tudo isso pela forma como o autor conduz a narrativa.
O CORUJAL: Realmente, a narrativa tem esse ritmo, como se o tubarão estivesse na espreita observando, pronto para atacar a qualquer momento. Isso é um ponto positivo para o autor, já que o leitor consegue realmente sentir a tensão, e isso é uma coisa muito difícil de se fazer.

CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

LEIA-ME JÁ!: Acho que no fim a cidade prosperou, já que o tubarão virou notícia no país, e consequentemente, uma atração.
O CORUJAL: Analisando o livro como um todo, gostei bastante! Acho que Peter Benchley tem um modo de descrever único que funciona com uma tensão que ele vai criando ao longo da narrativa. Isso é uma coisa que eu nunca tinha visto e que me surpreendeu muito. Gosto da forme como ele cria o terror psicológico, como você mesmo disse, não há mortes pra a todo momento. O terror em si está nas entrelinhas, é algo extremamente sublime.
LEIA-ME JÁ!: Sim! Achei estranho algumas resenhas que li, onde as pessoas reclamavam que o autor se demorava demais em descrever as pessoas e não dava muita atenção às mortes. Mas como você disse, é um terror sublime! Há todo um pano de fundo. E sinceramente, se fosse apenas um livro onde um tubarão mata pessoas, não haveria a construção muito bem feita das personagens, e nós, leitores, não nos importaríamos com elas. Acho que o modo como a obra foi escrita é a melhor possível, a tornou bem mais humana.
O CORUJAL: Realmente, a as personagens são muito bem criadas. Uma coisa que gostei muito no autor é que não há exagero no enredo. Tudo bem que não é comum, mas ele não extrapola como outros autores. É uma história simples, sem nada absurdo, fatos que realmente podem acontecer, e mesmo assim impressiona. Achei perfeito!
LEIA-ME JÁ!: Verdade, o autor não se demora e nem exagera. É simples e certeiro.


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